Olá, produtor(a)! Este é o último capítulo do Módulo Comercialização e Distribuição. Esperamos que você tenha apreciado o tema da nossa discussão até aqui. Para encerramos este módulo, vamos entender como todos os temas levantados até agora impactarão no mercado audiovisual nos próximos anos.
Como vimos no capítulo anterior, estamos em meio a uma revolução na forma de se consumir o audiovisual, ainda mais acelerada pela pandemia - que obrigou todos nós a ficarmos em nossos lares e nos habituamos a consumir, no conforto de nossos sofás, filmes que antes assistíamos nos cinemas. E agora, como a indústria voltará a atuar após a reabertura gradual dos serviços? Haverá demanda de público no cinema?
Olharemos, também, para como a indústria brasileira do audiovisual poderá aproveitar essa revolução para remodelar o modelo de produção e distribuição que implementamos por décadas. Como diria Bob Dylan, “os tempos estão mudando” e estamos tendo o privilégio de vivermos em um período que ficará marcado para sempre na história do consumo audiovisual. Mas, como tudo na vida, se não conseguirmos acompanharmos e, principalmente, nos adaptarmos a ela, ficaremos para trás.
Vamos lá então, para não ficarmos de fora desse bonde?
Neste capítulo, vamos conhecer como o audiovisual está sendo consumido hoje, compreendendo também as tendências futuras em termos de consumo, compreender como a distribuição e a comercialização de conteúdos também se transformará substancialmente, bem como identificar como podemos (re)pensar o desenvolvimento de um projeto audiovisual, considerando as novas demandas existentes.
Ao longo dos três primeiros capítulos deste módulo, vimos como o mercado audiovisual se transformou até chegarmos ao que conhecemos hoje, momento em que ele se transformará ainda mais. Só que dessa vez, de uma forma que romperá com diversos padrões e modelos de negócio que estavam estabelecidos há anos.
Prevermos o futuro do audiovisual faz com que tenhamos que pensar no hoje. Sabemos que a produção de um projeto é algo que demanda alguns anos de desenvolvimento e planejamento e, por isso, sabermos já o que se espera para os próximos anos é ainda mais fundamental.
O dia a dia de todos nós, que trabalhamos na área, vem mudando e diariamente novas decisões estratégicas têm impactos massivos na Indústria. A recém-decisão dos grandes estúdios de realizarem seus lançamentos day & date ou com uma janela mais curta entre cinema e streaming, por exemplo, é algo que muda toda uma dinâmica já estabelecida há décadas. Isso não é pouco.
Muito em breve teremos em nossas mãos telas ainda melhores, em celulares com tecnologia 5G que democratizará de forma substancial o acesso à banda larga para parte da população ainda não atendida. Será que isso impactará também no tipo de conteúdo que será demandado? São muitas perguntas, poucas respostas já certas, mas uma certeza nós temos: é fundamental olharmos para frente, porque quando piscarmos, esse futuro já terá chegado.
Como vimos no capítulo anterior, as transformações tecnológicas revolucionaram a forma de consumirmos conteúdo audiovisual.
Recomendamos a leitura do texto “Hollywood is Quetly using AI to help decide wich movies to make” ou “Hollywood está silenciosamente usando AI para ajudar a decidir quais filmes fazer”, de James Vincent. É um texto extremamente interessante para vermos com o mercado americano já está utilizando de Inteligência Artificial para escolher e desenvolver seus projetos. Clique a seguir para acessar:
Thompson (2018, p. 12) faz uma análise social bastante interessante sobre nossa sociedade, em relação ao consumo cultural. Ele apresenta a “Tese das Surpresas Familiares”, que parte do seguinte princípio: “A maioria dos consumidores são, ao mesmo tempo, neofílicos, curiosos para descobrirem coisas novas e, profundamente neofóbicos, temendo qualquer coisa que seja nova demais". Vamos entender um pouco mais sobre isso. Em resumo, nós buscamos um conteúdo que seja surpreendente, mas que, ao mesmo tempo, nos remeta a algo que já seja familiar a nós. E você? Se identifica com isso? Essa é uma reflexão bastante valiosa para todos nós que trabalhamos com o audiovisual.
Vamos nos aprofundar um pouco mais nesse conceito, seguindo a trilha proposta por Thompson (2018). Quando assistimos a um filme, é normal que tentemos encaixá-lo a partir de referências que já temos, não é mesmo? Porém, nos incomodamos quando um longa nos passa a sensação de que é ou exatamente igual a outro, ou completamente diferente de tudo o que já vimos. Segundo o autor, o ideal para se criar um hit, ou seja, para conseguir a atenção do espectador, é que o conteúdo apresente um elemento que seja novidade, em meio a muitos outros que nos soem familiar.
O fenômeno da série Round 6, que vimos no case anterior, é exatamente isso, não é mesmo? A série nos remete a Jogos Vorazes, Jogos Mortais, entre muitas outras referências, mas ao mesmo tempo apresenta fatores surpreendentes e inéditos. Quantas vezes não assistimos um filme de terror, por exemplo, que é muito parecido com outro, mas que mesmo assim é um enorme sucesso?
Logicamente, não estamos aqui defendendo a tese que temos que nos repetir nas produções, muito pelo contrário, pois isso perde o fator fundamental da tese, a “surpresa”, mas sim podemos e devemos nos inspirar em grandes sucessos para que consigamos criar um conteúdo que exerça seu papel de rei, pois todo o resto deve ser consequência disso.
Em relação a formato e plataforma de exibição, também não existem fórmulas perfeitas para o sucesso de um projeto, mas voltando para a perspectiva da distribuição e comercialização, é fundamental que entendamos as particularidades e o potencial de cada conteúdo e, principalmente, qual o melhor formato e plataforma para ele. Um exemplo claro disso pode ser visto no mercado editorial brasileiro, especificamente na literatura erótica.
Fonte: Essência (2017).
Devido, principalmente, ao conservadorismo da nossa sociedade, esse é um tipo de literatura que raramente se apresenta nas estantes das livrarias. Porém, erra quem pensa que este é um gênero pouco consumido pelo público leitor brasileiro. Autoras como Nana Pavoulih, Juliana Dantas, Valéria Veiga, entre muitas outras, já tiveram milhões (sim, milhões!) de páginas de seus livros consumidas através de dispositivos digitais de leitura, como o Kindle. Esses números expressivos contrastam com o proporcionalmente pequeno número de livros publicados fisicamente e vendidos nas livrarias. Ou seja, caso um produto audiovisual desse gênero seja produzido por aqui, onde você acha que ele funcionaria mais: nos cinemas ou no streaming?
É claro que exceções sempre vão existir, como 50 Tons de Cinza nesse caso, porém o mercado de conteúdos eróticos é um dos mais prolíferos nas plataformas de streamings SVOD e TVOD e, mesmo assim, temos uma produção nacional pouquíssimo voltada para esse mercado. Enquanto isso, filmes como o turco 365, a série mexicana Desejo Obscuro e a espanhola Victoria, todas elas da Netflix, fazem um enorme sucesso por aqui. Aliás, todos eles são conteúdos que entram na tese das “Surpresas Familiares” e vão de encontro ao que o público quer consumir.
Diante do cenário apresentado, qual será o futuro da distribuição?
É inegável que a pandemia tenha acelerado as transformações que estamos vivendo neste momento, também em relação a distribuição e comercialização. Se na produção abriu-se um mar de possibilidades decorrentes da entrada de novos players, principalmente no setor de streaming, e que estes mesmos players estão revolucionando a exibição, será que a possibilidade de uma distribuição direta entre produtor e exibidor faz com que esse elo da cadeia corra risco de extinção? Não existe uma resposta fácil para essa pergunta.
Dados divulgados pela Antenna Data, agência que analisa o setor de streaming, mostram como um grande título é fundamental para trazer assinantes a uma plataforma. Acompanhe a seguir.
Fonte: Antenna (2021).
Vemos que os principais picos estão relacionados a grandes filmes, como Mulher-Maravilha 1984, ou marcas consagradas, como Friends.
Mas o que as salas podem oferecer além dos filmes? A resposta, como já vimos nos capítulos anteriores, é simples: experiência. A experiência de ir ao cinema no Brasil é hoje, muitas vezes frustrante. Quantas vezes já não sofremos com maus atendimentos, banheiros sujos, uma projeção e/ou som ruins e, quando saímos da sessão, sermos “jogados” em um corredor mal iluminado e sem qualquer comunicação até voltarmos ao shopping? Tudo isso impacta significativamente na percepção do público em relação à experiência ofertada, que, em uma análise custo x benefício, pode achar essa experiência cara para o que lhe é proporcionado.
Uma das mudanças mais significativas que deve existir em nossas redes é a melhoria desses serviços, fazendo com que cada ida do espectador a uma sala de cinema seja inesquecível. Para isso, algumas redes já estão se modernizando, oferecendo salas com formatos diferenciados e uma tecnologia de tela e som incomparáveis.
Mas, infelizmente, isso só é visto em parte do nosso circuito e não parece ser o suficiente. Como análise comparativa, vale olharmos para a rede coreana (de novos eles, mas já sabemos que isso não é uma coincidência, não é mesmo!) CJ CGV. Essa rede, que faz parte do gigantesco conglomerado CJ Group, é a maior rede exibidora coreana e já expandiu operações para diversos outros países da Ásia, além dos Estados Unidos. Atualmente, é a quinta maior rede exibidora do mundo, com quase 3.500 salas, em 455 cinemas. O principal diferencial dessa rede é o conceito “Cultureplex”.
O conceito “Cultureplex” parte da premissa de que o espaço de um cinema deve ser um verdadeiro “centro de entretenimento”, onde as pessoas possam jogar, comer, ver performances e, além disso, assistir a um filme. E, quando falamos de assistir a um filme, não é simplesmente assisti-lo, mas sim “vivenciá-lo”.
Além de formatos já conhecidos como o IMAX, as salas do grupo oferecem sistemas como o 4DX (que já é ofertado por aqui também), além das salas com a tecnologia ScreenX, que possuem três telas e visão de 270º. Ou seja, assistir a um filme nesse formato é parte de toda uma experiência completa de entretenimento. E isso está se mostrando cada vez mais real por aqui. Incentivados pela falta da demanda decorrente da pandemia, redes de cinema como Cinemark, Kinoplex, Cinépolis entre outras, também passaram a oferecer em suas salas serviços diferenciados para conseguirem se manter vivas.
Mas, se os exibidores estão apostando em experiências de entretenimento além dos filmes e, nas plataformas de streaming os conteúdos podem ser distribuídos diretamente, quais caminhos os distribuidores podem seguir?
Aqui, é importante dividirmos as empresas em dois grupos: de um lado as majors, de outro as independentes. Para as majors, essa transformação é mais simples e adaptável. A verdade é que a distribuição cinematográfica vem se tornando cada vez mais apenas uma parte dentro de uma estratégia extremamente diversificada de grandes grupos globais. As maiores distribuidoras do mundo são hoje parte de gigantescos conglomerados de tecnologia, que enxergam no cinema mais um braço dentre aqueles serviços que oferecem:
Fonte: Shapiro (2020).
Dessa forma, a distribuição cinematográfica se torna apenas mais uma ferramenta entre inúmeras outras, podendo perder cada vez mais sua força em detrimento a divulgação na própria plataforma, por exemplo. Em nosso mercado, já nos habituamos a ver profissionais que deixaram a área de marketing ou programação de uma determinada distribuidora e passaram a trabalhar nas mesmas áreas, mas em campanhas e lançamentos para uma plataforma de streaming, ou seja, sem a necessidade da interlocução com uma distribuidora para isso.
E para as distribuidoras independentes? Neste caso, o caminho deve ser cada vez mais complexo. Até por isso, muitas delas já estão diversificando as operações. Vimos, no capítulo anterior, o exemplo da O2 Play, que opera também como agregadora, mas podemos levantar outros exemplos como a Imagem Filmes, Paris Filmes e a própria Galeria Distribuidora, empresa da qual sou sócio fundador, que passaram a atuar também no elo da produção. A Paris Filmes, inclusive, desenvolveu também a “Paris Entretenimento”, cujo atividade está em outras áreas culturais como o teatro, e a “Paris Pós”, que atua na pós-produção de obras audiovisuais. Mas isso quer dizer que a função de uma distribuidora acabou? Não, muito por conta de um motivo: a propriedade intelectual.
Em tempos de enorme demanda por conteúdo e extrema concorrência entre as grandes plataformas de streaming, a detenção de uma boa propriedade intelectual pode ser vital para que uma distribuidora continue tendo sucesso no audiovisual. E isso pode ser uma peça-chave também para a nossa produção? Por quê? Ora, se os grandes blockbusters das independentes são os filmes nacionais, é fundamental que essas distribuidoras continuem buscando bons atores, livros e histórias para levarem às telas de cinema ou mesmo para venderem ao streaming diretamente.
Para exemplificar isso, recuperamos o case do Menina Que Matou Os Pais, explicado ao fim do Capítulo 2, se recorda? Os direitos da distribuição do projeto foram negociados com a produtora e, a partir de então, a Galeria Distribuidora tinha a opção de lançar a obra da forma que fosse mais rentável a ela. Surgiram propostas do streaming diretamente, além da possibilidade de lançamento nos cinemas como primeira janela. Fazendo as contas, entendemos que, pelo valor da proposta, seria mais vantajoso lançarmos direto no streaming, sem corrermos o risco de passar pelo cinema antes. Lembro que o cinema pode ser sim muito rentável, porém no atual momento pandêmico que estamos vivendo, infelizmente, essa conta não é vantajosa para o lado do distribuidor.
Independente do momento em que vivamos e das transformações que estão ocorrendo, esse exemplo serve para demonstrar que, se um distribuidor possui grandes conteúdos e marcas em suas mãos, ele poderá não apenas sobreviver, mas conseguir lidar com essas mudanças como uma oportunidade para diversificar suas áreas de atuação, além de seguir buscando grandes conteúdos e projetos.
Existe uma série de mercados de filmes, nacionais e internacionais, grandes e pequenos, nos quais nós distribuidores podemos buscar conteúdos, mas cada vez mais se torna fundamental entender o que o mercado está buscando efetivamente e não o caminho contrário que acontecia no passado, onde os distribuidores adquiriam os conteúdos e tentavam “empurrá-los” ao público. Ter o conteúdo certo não é fácil, mas quem disse que seria fácil ser Rei, não é mesmo?
Para encerrar nosso módulo, será fundamental fazermos uma reflexão sobre o futuro da nossa produção audiovisual no Brasil.
Ao longo desta trilha, vimos como as transformações, sejam elas tecnológicas, culturais, comportamentais, econômicas e políticas impactam no cotidiano do nosso mercado e o transforma abruptamente. A total dependência do financiamento através de recursos públicos foi extremamente prejudicial a partir da entrada de um Governo que não manteve os investimentos empenhados anteriormente, praticamente cortando-os pela raiz, o que acarretou o fechamento de uma série de pequenas e médias produtoras.
Outras, apenas conseguiram se sustentar graças à produção publicitária ou de conteúdos para streaming, cujo financiamento é realizado através de recursos próprios. Por falar no streaming, como também vimos, os debates sobre a regulamentação deste modelo de negócio se mostram cada vez mais fundamentais para que este mercado também passe a gerar recursos para a indústria brasileira. É fato que a polêmica em torno da definição do modelo ideal de regulamentação é válida, porém esta é uma discussão que já perdura por anos e precisa ser resolvida. Mas os streamings estão longe de ser os vilões, muito pelo contrário.
Como vimos no case apresentado no capítulo anterior, sobre a série coreana Round 6, cada vez mais a “internacionalização” dos nossos conteúdos se torna uma oportunidade para nossos produtores. E aqui, reforço a questão do IPs, fundamentais para que nossos projetos sejam bem-sucedidos mundo afora. Filmes como Modo Avião, Ricos de Amor, Tudo Bem No Natal Que Vem e Pai em Dobro, todos eles lançados globalmente pela Netflix, tiveram ótimas performances não apenas no Brasil, mas em diversos mercados internacionais. Isso porque todos eles têm uma característica em comum que é a de tratar de assuntos de interesse global.
Logicamente, sempre vamos colocar uma “pitada” de Brasil em nossas obras, mas entender as demandas de um público global e não apenas local passa a ser também um diferencial para os projetos.
Fonte: Disponível em: https://www.instagram.com/p/CKPkxmQp3Uo/?utm_source=ig_embed&ig_rid=2dd82d49-14e0-482c-82a1-b957efc34149. Acesso em: 15 nov. 2021.
Outro ponto bastante interessante que podemos analisar é a polaridade entre a concentração x fragmentação, dependendo da janela. Nos cinemas, os resultados anuais de bilheteria estão cada vez mais concentrados em menos filmes. Como vimos anteriormente, em 2019, pela primeira vez nas bilheterias brasileiras o TOP 10 representou mais de 50% da bilheteria total do ano e essa é uma tendência que deve se consolidar cada vez mais, ainda mais depois da pandemia, em que nosso comportamento de consumo audiovisual se modificou.
Passamos a assistir cada vez mais conteúdos em nossas casas, tendo acesso a cinematografias nunca consumidas. Quem diria, há anos, que séries espanholas, mexicanas e coreanas estariam entre as mais assistidas no Brasil? Isso reforça o poder da fragmentação no streaming, ou, como já vimos diversas vezes, a teoria da Cauda Longa, criada por Chris Anderson. Se os cinemas não podem sustentar um mercado baseado nesse modelo, o mercado de streaming é totalmente aberto e possível para isso. E, dessa forma, com certeza precisarão de conteúdo constante para se manter atraente aos assinantes.
Esse comportamento de parte dos espectadores de assinar, assistir ao conteúdo desejado e depois cancelar a assinatura é ainda mais frequente em países com maior instabilidade econômica, como o Brasil. Sendo um dos países que mais consome pirataria no mundo, esse problema se acentua ainda mais por aqui. Dessa forma, é fundamental para as grandes plataformas que continuem produzindo e lançando com grande frequência conteúdos relevantes para o seu público. Uma oportunidade e tanto para nosso mercado, não?
A verdade é que temos, em nossas mãos, a possibilidade de revolucionar o cinema brasileiro como nunca. Já sofremos diversos momentos de baixa e de quase paralisação do nosso mercado, mas conseguimos nos reerguer e voltarmos ainda mais fortes. Além disso, nunca tivemos tamanha pluralidade de janelas, players e formatos como a que estamos tendo hoje.
A concorrência cada vez mais intensificada no elo da exibição se torna um gigantesco mar aberto para que desenvolvamos nossos produtos com foco total na demanda, para que consigamos ter sucesso. Da mesma forma, incorporar conceitos da distribuição e comercialização desde o momento da concepção do projeto mostra-se ainda mais fundamental que antes. Vimos que as distribuidoras já estão caminhando para a produção e vice-versa e isso será ótimo para a nossa indústria. Temos nas mãos profissionais capazes, um mercado pujante e tudo isso fortalecerá cada vez mais a nossa cultura. Tenho certeza de que, assim como eu, todos que estão lendo esse módulo acreditam na formação cultural como uma das principais formas de construção de uma sociedade. Vamos juntos fazer nossa indústria brilhar!
Um case interessante que representa muito bem as mudanças do nosso mercado e serve também como um indicativo de um dos caminhos de futuro da produção nacional é o lançamento do filme Modo Avião, dirigido por César Rodrigues e produzido pela A Fábrica, de Luiz Noronha. Lançado pela Netflix, em 23 de janeiro de 2020, o filme se tornou rapidamente o maior filme de língua não-inglesa de todos os tempos na plataforma. Mas isso não foi por acaso.
A partir dessa pequena sinopse, posso dizer que já conseguimos imaginar o que se passa ao longo do filme, correto? Os envolvidos no filme tiveram a capacidade de desenvolver um longa que respeitasse os anseios e demandas do público, mas ao mesmo tempo sem deixar de entregar algumas “surpresas” que causassem a boa sensação de não estarem vendo apenas um “mais do mesmo”. Dessa forma, o filme se tornou TOP 10 em países com culturas das mais diversas.
E Modo Avião foi apenas o primeiro de muitos outros sucessos de produtos brasileiros no exterior. Um outro exemplo interessante de analisarmos é a série 3%, também da Netflix. Lançada em 2017, a série também se tornou, na época, a série de língua não inglesa mais assistida da plataforma no mundo – ainda que tenha sido superada depois. Ainda assim, um dos diferenciais mais interessantes deste sucesso é que o projeto teve mais repercussão no exterior do que no próprio Brasil.
Desenvolvida por Pedro Aguilera e produzida pela Boutique Filmes, a série também se aproveita de muitos clichês de projetos que abordam um futuro distópico e cruel que questiona a dinâmica da sociedade. Quantos outros projetos poderiam ter essa mesma descrição, não é mesmo? Mas, assim como no caso do Modo Avião, os produtores souberam temperar os clichês com surpresas interessantes para seu público final, fazendo com que o interesse pelo conteúdo fosse gerado espontaneamente.
Não é coincidência que estes projetos foram dois dos primeiros produtos brasileiros aprovados, financiados e posteriormente lançados pela Netflix. Com um sistema de inteligência de informação profundamente detalhado, a empresa pode selecionar apenas os projetos que tenha certeza de que atrairão o público final.
O fato é que, cada vez mais, essas informações estarão nas mãos de todos nós. O grande diferencial é que nós produtores, distribuidores e exibidores, saibamos aproveitá-las e transformá-las em produtos que sejam facilmente produzidos, distribuídos, comercializados e consumidos.
Como vimos ao longo do módulo, não existe apenas um caminho ou uma plataforma certa para que sua obra seja distribuída e comercializada. O universo de opções nunca foi tão vasto, mas, ao mesmo tempo, a assertividade em relação ao conteúdo x janela x plataforma nunca foi tão exigida.
Não é raro vermos casos como o do projeto Sob Pressão, por exemplo. Dirigido e produzido por Andrucha Waddington, o primeiro derivado do projeto foi um longa-metragem, lançado nos cinemas em 2016. O filme teve uma recepção fria do público, registrando pouco mais de 35 mil espectadores. Por outro lado, quando o projeto foi apresentado como série, exibida em horário nobre pela Globo, ela se tornou um grande sucesso e em breve entrará em sua 5ª temporada, registrando ótimas audiências. O mesmo cenário poderia ser imaginado para conteúdos de grande sucesso nas plataformas de VOD, como Maid e You, da Netflix, ou Succession, da HBO Max, entre muitos outros. São modelos de projetos e histórias cujas premissas e características – como um elenco desconhecido, por exemplo – raramente conquistariam um bom desempenho nas telas de cinema.
Sendo assim, sintetizamos, a seguir, alguns dos caminhos para que você, produtor(a), possa definir o ideal para a comercialização da sua obra:
Fonte: Elaborado pelo autor (2021).
É importante sempre relembrar que, independentemente da janela, do formato, de ter uma distribuidora ou não, para que gere interesse ao player, o projeto ou obra precisa brilhar aos olhos do comprador. Para isso, quanto mais você conseguir demonstrar os diferenciais do seu produto, mais chances haverá de que essa jornada seja bem-sucedida!
Com isso, finalizamos o módulo Comercialização e Distribuição, onde tivemos um panorama sobre a Indústria Audiovisual Brasileira e Mundial e a oportunidade de transitar em temas como distribuição audiovisual, transformações tecnológicas e futuro do Audiovisual. Esperamos ter agregado conhecimento nesta área que, como vimos, tem sentido os impactos das transformações tecnológicas, culturais, comportamentais, econômicas e políticas. Continue a se aperfeiçoar e acredite no seu projeto. Até breve!
Neste capítulo, você estudou sobre o futuro do Audiovisual. Entendemos sobre como as transições tecnológicas afetarão a nossa cadeia produtiva do audiovisual e como essas mudanças estão afetando – e afetarão ainda mais – o desenvolvimento e comercialização de obras audiovisuais.
Além disso, compreendemos que a distribuição precisará se readaptar e praticamente se reinventar para não extinguir como elo dessa cadeia. Com o desenvolvimento das plataformas de streaming a atuação delas tende a se tornar cada vez mais restrita e pontual, exigindo uma verdadeira reinvenção no modelo de atuação. Por fim, compreendemos também como o mercado audiovisual brasileiro pode se aproveitar dessas transformações para se fortalecer e voltar a ser pujante, superando este momento de crise decorrente da pandemia e da falta de incentivo governamental.
Vamos finalizar o capítulo ouvindo um podcast: